Eloir Jr. e Carla Schwab em produção de Pêssankas
Demonstração em São Paulo-SP
Pêssankas são um dos símbolos
da Páscoa para o povo ucraniano e seus descendentes. Trazem impressos na frágil
e tênue casca de ovos de diversas aves, a história de uma civilização milenar
cujas raízes estão além dos tempos. Frágeis e delicadas na aparência, as
pêssankas, nos contam a história de um povo trabalhador, culto, religioso e
sobretudo criativo que procura transferir para a superfície branca do ovo, uma
riquíssima e peculiar simbologia.
“Traços delicados, formas ondulantes e cores da primavera nas pradarias
e estepes, constituem a mais pura expressão de sentimentos e desejos de paz
infinita, eternidade, saúde, prosperidade, fortuna, religiosidade, entre muitos
outros adjetivos e desejos para o bem.
O
imigrante ucraniano conseguiu preservar essa arte através do ensinamento de mãe
para filho. Além disso, pesquisando, descobriu novos pigmentos, incorporando as
matizes da natureza da nova terra. Cultuando e difundindo já por mais de um
século essa tradição, os ucranianos e seus descendentes trazem o que já de mais
orgânico e profundo dessa arte popular ucraniana, a pêssanka”. (Baseado na Fonte: exposição
Páscoa – Centenário da Imigração Ucraniana no Brasil – 1991).
Pêssankas de Alice Noga
Breve História
A pêssanka é uma arte em ovos e tem origem a mais de 3000
a.C, sendo um dos símbolos mais importantes da cultura ucraniana, e seus
desenhos escritos nesta superfície catenária trazem belas mensagens como paz,
harmonia, amor, saúde, prosperidade, amizade, entre outros. A palavra pêssanka é proveniente do verbo “pyssaty”
que em língua eslava significa “escrever”, então posso dizer que são palavras e
passagens da vida, pois o ovo é o ícone representativo da vida.
A arte da pêssanka expressa a essência do espírito do povo
ucraniano, sendo uma forma de ligação entre presente e passado, manifestando
por meio dos desenhos o íntimo do ser humano, com seus anseios, realidades,
conceitos e esperanças. Elas também transcendem a Páscoa e se tornam
atemporais, havendo outras comemorações em
que são elaboradas e presenteadas, como por exemplo, a chegada da primavera no
hemisfério norte, casamentos, batizados, aniversários e a celebração da amizade
e da vida. Um dos significados mais fortes é o da ressurreição de Cristo e nascimento
da nova flora com a primavera, nesta época os
ucranianos passam a se cumprimentar com os dizeres: Khrestós Voskrés! (Cristo
Ressuscitou!), Voísteno Voskrés (Verdadeiramente Ressuscitou!).
Rito
Pascal
Um dos mais belos momentos
desta época (Páscoa) é a Bênção das Paskas (pão especial e ritualístico da
Páscoa, enfeitado com ramos de trigo, folhas e flores feitos com a própria
massa). As mesmas são levadas às igrejas e memoriais em cestas decoradas com lenços, bordados típicos e
fitas, contendo alimentos como carnes defumadas, frutas, bolos, sal, temperos,
pães, ovos cozidos, vinho e também as pêssankas, para serem bentas no sábado de
aleluia e consumidas na manhã do domingo de Páscoa onde toda a família se reúne
para confraternizarem, iniciando pelo ovo cozido, onde o patriarca da família o
corta no número de pessoas que estão à mesa, distribui e faz os desejos de
Páscoa, alimentam-se da Paska e das demais especiarias bentas.
História remota
Segundo o livro Pêssankas - A arte ucraniana de decorar ovos,
com texto de Eduardo Sganzerla, edição 2007 e também diversas bibliografias
européias, arqueólogos descobriram em 1992 nas ruínas da Igreja de Krylos,
antiga Galícia-Ucrânia ocidental (região ucraniana de maior imigração ao Estado
do Paraná), uma pêssanka de cerâmica datada de 1.300 a.C., levando a crer que
os mais antigos “ovos escritos”, podem ter sido criados por ancestrais que
viviam em terras, hoje ucranianas desde 3.000 a.C. O hábito de presentear com
pêssankas iniciou na era cristã, quando com o advento do cristianismo em 988
d.C. na Ucrânia, onde a Igreja incorporou símbolos religiosos e o ritual da
Páscoa na confecção dos ovos celebrando a ressurreição de Cristo, pois ovo é o
símbolo da vida. A tradição das pêssankas se faz em todos os países de origem
eslava, sendo mais forte na Ucrânia com simbologia geométrica e florais na
Polônia. Há na Alemanha também um estilo muito próprio e peculiar de pintar
ovos, sendo destacado o Bauer malerei.
Alguns significados das cores e simbologia
Para esta época
Pascal a cor branca representa a pureza, a cor vermelha, esperança e paixão de
Cristo, a cor verde o renascimento, a cor azul a vida, cor roxa a fé e cor
preta a eternidade. Os símbolos mais usados neste período são; as estrelas que
formam rosáceas e significam o amor de Deus para com os Homens, linhas em
arabescos que são a eternidade, a cruz representando a paixão, morte e
ressurreição de Cristo, pontos que são as lágrimas de Maria, triângulos
representam a Santíssima Trindade, borboletas a ressurreição, árvores o
renascimento e peixes o cristianismo em si.
Mantendo a tradição das Pêssankas
Homens, mulheres e
crianças aprendem a confeccionar pêssankas, principalmente no período letivo da
primeira infância onde são passados os primeiros valores culturais, mais em
qualquer faixa etária é possível aprender. Em Curitiba, a Escola Madre
Anatólia, tem a pintura de pêssanka como parte do aprendizado curricular e nas
sociedades étnicas como a dos Grupos Folclóricos Poloneses e Ucranianos, Barvinok,
Poltava e Wisla também ensinam a arte das Pêssankas. Por todo o Estado do
Paraná, nas principais cidades de colonização eslava como Prudentópolis,
Francisco Beltrão, Mallet, União da Vitória entre outras, há também a difusão
da arte, onde formamos em torno de 400.000 descendentes de ucranianos e há
também um grande número de descendentes de poloneses.
Ainda que as
pêssankas corram o risco de desaparecer, acredito que a vitalidade e
perseverança destes povos que trouxeram ao nosso Estado esta prática são
fortes, pois venceram muitas guerras, invasões, comunismo, tentativas de
destruir a identidade étnica e atualmente esta crise no leste da épica Ucrânia.
Mas a arte sempre sobreviveu e atravessou um Atlântico para estar presente aqui
através de algumas gerações que ainda prosperam na cultura dos hábitos e
costumes, e as pêssankas continuam acompanhando a vida desta gente que
veio para o Brasil em busca de um futuro melhor para seus filhos e que hoje
respiram a liberdade.
A Ucrânia, em 1991 finalmente adquiriu sua
independência, exigida pela população que saiu às ruas e hoje, além do seu
valor cultural, simbólico e artístico, as pêssankas passaram a ser um símbolo
de longevidade para uma Ucrânia livre e independente e tornou-se também um
símbolo icônico do Estado do Paraná.
Concluo com
as palavras de Helena kolody, nossa imortal poeta: "A Ucrânia não morrerá jamais
enquanto houver um grupo jovem que dance suas danças típicas, cante suas
canções folclóricas e cultive as suas tradições como uma chama sagrada. Os
valores Ucranianos há de passar de uma geração para outra até o fim dos
séculos".
Prezado Eloir, nós somos descendentes de ucranianos e moramos em Recife há uns 50 anos. Fomos a sua exposição no shopping Guararapes e tiramos várias fotos, porém não anotamos a data. Você poderia nos ajudar a encontrar a data do seu evento?
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